A pandemia da COVID-19 levou a uma grande corrida mundial para o desenvolvimento de vacinas com eficácia adequada para imunização da população e consequente controle da doença.
Diversas vacinas estão em fase de desenvolvimento e muitas já foram aprovadas por órgãos regulatórios em diversos países, cujos programas de imunização da população já estão em andamento.
Temperaturas extremas

No entanto, algumas vacinas chamam à nossa atenção pela temperatura baixíssima as quais devem ser mantidas. A vacina da farmacêutica Pfizer, por exemplo, necessita temperatura de estocagem de –70° Celsius, oque dificulta (e muito) a logística de distribuição mundial. O transporte e estoque destas vacinas em temperaturas tão baixas representa um grande desafio na distribuição das mesmas, o que pode inviabilizar sua distribuição e utilização mundial.
Uma vacina semelhante foi desenvolvida pela empresa Moderna. Esta vacina precisa de temperaturas baixas, mas neste caso a temperatura de estocagem é –20° Celsius, que é facilmente alcançada com freezers domésticos.
Explicações bioquímicas

Mas porque estas vacinas, apesar da grande eficácia apresentada nos estudos clínicos, necessitam condições tão extremas que podem inviabilizar o seu uso global? Vacinas tradicionais necessitam temperaturas moderadas de estocagem. Mas tais novas tecnologias são diferentes…
A resposta está no fato de ambas as vacinas serem baseadas no uso de moléculas de RNA. Tais vacinas usam moléculas de RNA mensageiro (aquele RNA que carrega as informações para a síntese de proteínas) para produção de proteínas virais no organismo humano, o que gera resposta imune contra o agente viral.
Quem lembra das aulas de bioquímica deve recordar-se que as moléculas de DNA são extremamente estáveis, enquanto as moléculas de RNA, são estruturas transientes e muito instáveis. Tal diferença deve-se ao fato de que o arcabouço de açúcar-fosfato do RNA ser feito de ribose, enquanto na molécula de DNA, a desoxirribose está presente. Essa pequena diferença é crucial para alterar a estabilidade da molécula e tornar o RNA tão instável e propício à degradação.
As diferenças de temperatura de estocagem
Dessa forma, todas as vacinas baseadas no uso de RNA mensageiro enfrentarão o mesmo desafio logístico associado à preservação em temperaturas tão negativas. Mas porque a vacina da Pfizer necessita de temperatura de estocagem de –70° Celsius e a Moderna necessita apenas manutenção a –20° Celsius? Bom, isso deve-se a prováveis detalhes de formulação na vacina da Moderna que permitam uma maior estabilização da molécula de RNA, possibilitando, assim a estocagem em temperaturas menos extremas. É claro, que tal informação deve tratar-se de segredo industrial resultante de muita pesquisa e desenvolvimento.
O futuro
O importante é que os resultados da Moderna já se mostraram encorajadores pois tal temperatura de estocagem, apesar de baixa, é facilmente exequível através do uso de equipamentos de refrigeração que existem em todo o mundo.
As tecnologias de vacinas à base de RNA mostraram eficácia muito significativa e provavelmente serão utilizadas no desenvolvimento de muitas outras vacinas contra agentes infecciosos. Todas as tecnologias de suporte que permitam a estocagem das mesmas em temperaturas menos extremas permitindo fácil distribuição global serão o foco de muitos estudos no futuro.